sexta-feira, 5 de abril de 2013

D. Maria I e a invasão napoleónica, sob o comando de Junot (1807-1808)


A invasão de Portugal pelo exército francês, em fins de 1807, teve como causas remotas a antiga aliança com a In­glaterra, a política dúbia e hesitante do príncipe regente (D. João VI, que governava desde 1799, porque sua mãe, a rainha D. Maria I, havia enlouquecido em 1792) e, como causa próxima, o bloqueio continental decretado pela França à Inglaterra, que fechava a este país todos os portos da Europa.
Napoleão exigiu que Portugal fechasse não só os portos aos navios ingleses, mas que declarasse também guerra à Inglaterra, nossa velha aliada.
O governo português recusou-se a cumprir fielmente as ordens de Napoleão, seguindo uma política de indecisões, que levou o Imperador a assinar com a Espanha o tratado de Fontainebleau (27 de Outubro de 1807), pelo qual o nosso país era dividido da seguinte maneira: a província de Entre-Douro e Minho, tendo o Porto por capital, constituía a Lusitânia septentrional e era dada à Rainha da Etruria; o Alentejo e o Algarve formavam um principado para o ministro espanhol Godoy, sob o protectorado da Espanha; as restantes províncias eram destinadas à França, para Napoleão dispor delas à sua vontade.
Para se dar execução ao tratado de Fontainebleau foi o reino invadido por tropas espanholas e francesas, sendo estas comandadas por Junot.
Foi então que os Ingleses aconselharam o Príncipe regente, D. João VI, a que se retirasse para o Brasil, o qual não hesitou, logo que teve conhecimento da invasão. Antes de- embarcar, o Príncipe pediu à nação que recebesse os Franceses como amigos.
O exército francês, coroado de glória, atravessou rapidamente a Espanha, em marchas forçadas, no princípio do Inverno. Estas marchas desorganizaram-no dum modo espantoso. O vento, a chuva e a neve destroçaram-no ainda mais. As colunas perdiam a formatura e muitos soldados ficavam inanimados ao longo dos itinerários, devido ao cansaço e às privações sofridas.
A maior parte das espingardas dos seus soldados, que estes utilizavam como qualquer varapau, não estavam em condições de servir. A cavalaria vinha quase toda apeada, por terem morrido muitos cavalos. A pouca artilharia que restava era puxada a bois e grande número de carros de munições tinham caído nos barrancos ou sido abandonados ao longo do percurso. Dos 26.000 homens altivos com que Napoleão saíra de França, chegaram a Alcântara cerca de 20.000 soldados, completamente extenuados, sem uniformes ou com eles esfarrapados, descalços, indisciplinados, mortos de fome e de fadiga. As povoações por onde passavam eram saqueadas e mortos alguns dos seus habitantes, embora se tratasse de «país amigo». Foi com um exército nestas condições que Junot chegou a Alcântara (em Espanha) a 17 de Novembro de 1807, distante 14 quilómetros de Segura, ou seja, portanto, da fronteira portuguesa. Naquela vila espanhola requisitou quantos sapatos havia, para calçar as suas tropas, alguns bois e a pólvora de um grande paiol ali existente, porque nem pólvora trazia já.
Tinha pressa de chegar a Lisboa, e por isso, no próprio dia 18, colheu informações em Segura e no Rosmaninhal, que lhe deram a certeza das disposições (pacíficas do país e de que era ainda desconhecido nele a aproximação das tropas francesas. Decidiu, pois, continuar a marcha com o seu exército andrajoso e indisciplinado. Ainda no dia 18 de Novembro saiu de Alcântara uma companhia de atiradores, que atravessou a ponte de Segura e entrou nesta povoação portuguesa, que foi a primeira onde penetraram as tropas francesas.
A 19 saiu a vanguarda de Alcântara, sob o comando do general Maurin, seguindo por Segura, Zebreira e Idanha-a-Nova. Pernoitou aqui, seguindo na manhã de 20 para Castelo Branco, onde chegou às 6 horas da tarde, fazendo-se preceder da secção de quartéis, que entrara às 4 horas.
No mesmo dia 20, saíam de Alcântara as restantes forças, que, ao chegarem a Segura, se repartiram pelos itinerários: Segura-Rosmaninhal-Monforte-Castelo Branco, Segura-Zebreira-Idanha-a-Nova-Castelo Branco e Segura-Zebreíra-Ladoeiro-Castelo Branco.
Forças que tinham ficado em Zarza la Mayor entraram depois por Salvaterra do Extremo, seguindo por Zebreíra-Ladoeiro-Castelo Branco.
Como se comportou a tropa na sua passagem por Segura e pelas restantes povoações da raia? Não encontrámos elementos para desenvolver este ponto e a tradição oral é muito fraca para nos elucidar. Sabemos, porém, que em Idanha-a-Nova e Castelo Branco cometeu roubos, assassinatos e os maiores excessos. Junot ia enganando os habitantes, na sua marcha, com palavras de amizade e de protecção, ao mesmo tempo que o seu exército os roubava e devastava. Desde que entrou em Portugal, fez espalhar uma proclamação, datada do seu Quartel General, ern Alcântara, a 17, pela qual fazia constar: «Que entrava com as suas tropas a marchas forçadas, para ir salvar a bela cidade de Lisboa da sorte de Copenhague, fazendo causa comum com o nosso amado Príncipe contra o tirano dos mares (a Inglaterra), a quem este tinha declarado a guerra». A proclamação continuava: «Habitantes pacíficos do campo: nada receeis. O mey exército é tão bem disciplinado, como valoroso. Eu respondo, sob a minha honra, pelo seu bom comportamento. Ache ele por toda a parte o agasalho, que lhe é devido como a soldados de Napoleão o Grande. Ache ele, como tem direito a esperar, os víveres, de que tiver precisão, mas sobretudo o habitante dos campos fique sossegado em casa. Dou-vos a conhecer as medidas tomadas para garantir a tranquilidade pública. Eu cumprirei a minha palavra».
«Todo o soldado francês que for encontrado roubando, será punido com o mais rigoroso castigo.
«Todo o indivíduo, de qualquer ordem que seja, que tiver recebido alguma contribuição injustamente, comparecerá perante um conselho de guerra, para ser julgado com todo o rigor das leis.
«Todo o indivíduo do reino de Portugal, não sendo soldado da tropa de linha, que for preso, fazendo parte de qualquer ajuntamento armado, será fuzilado.
«Todo o indivíduo convencido de ser chefe de ajuntamento ou de conspiração, tendente a armar os cidadãos contra o exército francês, será fuzilado.
«Toda a cidade, vila ou aldeia, em cujo termo for assassinado um indivíduo pertencente ao exército francês, pagará uma contribuição, que não poderá ser menor que três vezes o seu rendimento anual. Os quatro habitantes principais servirão de reféns para pagamento da quantia; e para que a justiça seja exemplar, a primeira cidade, vila ou aldeia, onde for um Francês assassinado, será incendiada e arrasada por completo.
«Mas eu quero persuadir-me que os Portugueses hão-de conhecer os seus verdadeiros interesses; que, auxiliando as intenções pacíficas do seu príncipe, nos receberão como amigos que particularmente a bela cidade de Lisboa me verá com praz entrar em seus muros à frente de um exército único, que a pode preservar de ser presa dos eternos inimigos do continente.»
Assim termina a proclamação de Junot, com as suas promessas e as suas ameaças. O escritor José Acúrsio das Neves na «História Geral das Invasões Francesas», diz que «assim que o exército se viu num país, onde julgava que tudo lhe era permitido, foi uma torrente devastadora, que ia destruindo tudo diante de si. As aldeias despovoavam-se de habitantes, e a tropa que queria tudo, e não achava coisa alguma, porque nada estava prevenido, metia-se pelas casas, roubava e queimava quanto encontrava. Olivais, pinhais e outros arvoredos eram destruídos uns para servirem de barracas, outros para o lume; povoações inteiras entregues à pilhagem; templos profanados e roubados sem se perdoar aos vasos sacrossantos e imagem sagradas, sacrílega e brutalmente queimadas ou picadas com as baionetas».
Em face do exposto, não andaremos longe da verdade se afirmarmos que o exército invasor não poupou também as povoações raianas e, por consequência, Segura.
Doutro modo não se explicaria a fugida em massa da população de Segura para os matos, especialmente para o Tramal vivendo em tendas 1) e outros abrigos improvisados, facto este relatado pela tradição oral. As tendas do Futre e da Pereira na região do Tramal, são deste tempo.
A torre de menagem do antigo castelo, ao tempo ainda de pé, foi seriamente danificada nessa altura.
Junot entrou em Lisboa, sem resistência, no dia 30 de Novembro de 1807, com 1.500 homens apenas. As restantes forças entraram nos dias seguintes.
Portugal começou então a sofrer todo o género de opressões, levando-o a revoltar-se contra a dominação francesa.
Auxiliados pelos Ingleses, vencemos as tropas francesas nas batalhas de Roliça e Vimeiro, em 17 e 21 de Agosto de 1808.
Pela Convenção de Sintra, assinada nove dias depois, os Franceses obrigaram-se a evacuar o reino, sendo transportados, com armas e bagagens, para a França, a bordo de navios ingleses, sem condição alguma.
 1)       Tenda — Construção tosca, cilíndrica, em piçarra, com uma abertura cónica, feita igualmente de piçarras, paus e terra batida.

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quinta-feira, 4 de abril de 2013

D. José I e a campanha de 1762


Em 1756 estalou a guerra denominada dos «Sete Anos», entre a França e a Inglaterra, tendo os Ingleses a aliança da Prússia e os Franceses a da Áustria, Suécia e Rússia.
Em 1761, Luís XV, Rei de França, propôs a formação do célebre tratado «Pacto de família», que devia coligar contra a Inglaterra todas as nações cujos Reis pertencessem à dinastia dos Bourbons. Estas nações eram, além da França, a Espanha, Nápoles, Parma e Portugal. A Espanha assinou-o, mas Portugal recusou-se a aderir, alegando antigos tratados de aliança com a Inglaterra. A França e a Espanha declararam-nos guerra e fizeram invadir Portugal por Trás-os-Montes e pela Beira. Ne Norte, destacamentos espanhóis tomaram e ocuparam Chaves.
Na Beira, o Marquês de Sarria, general espanhol, entrou. em Junho de 1762, por esta fronteira, ocupando sem resistência Castelo Rodrigo e Almeida, avançando sobre Celorico da Beira, que capitulou sem resistência.
Antes da invasão da Beira, e logo que o perigo de guerra ameaçou, o Marquês de Pombal tratou de reorganizar o exército, e para seu comandante em chefe chamou, da Alemanha, o Conde de Lipe, que sustentou com inteligência e superior talento militar a defesa de Portugal.
Em fins de Agosto, o general Sarria foi substituído pelo Conde de Aranda no comando do exército franco-espanhol, que em vez de prosseguir o avanço sobre Lisboa, como Lipe receava desceu pela Beira, sobre Sabugal e Penamacor, talvez no intuito de deslocar as operações para o Alentejo, aproximando-se de Badajoz, donde recebia os abastecimentos.
Porém, o exército invasor, incomodado pelo Conde de Lipe retira para Espanha, por Segura, em direcção a Alcântara, conservando as praças de Salvaterra do Extremo e Segura, de que se tinha apoderado.
Em meados de Setembro o inimigo concentrou-se novamente em Castelo Branco, chegando até às posições do Sardoal, disposto a marchar sobre Lisboa. Mais uma vez o talento militar do Conde de Lipe o obrigou a retirar até Castelo Branco e daí para Espanha, em duas direcções: por Segura a Alcântara e por Malpica a Herrera e Valência de Alcântara.
Estabeleceu-se um armistício em l de Dezembro de 1762 e em Fevereiro de 1763 ajustou-se a paz definitiva, pelo tratado de Paris entre a França e a Espanha, de um lado, e a Inglaterra e Portugal, do outro, pelo qual Portugal readquiriu o que lhe tinham conquistado.

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quarta-feira, 3 de abril de 2013

D. Pedro II e a invasão de Portugal pelos Espanhóis, sob o comando do Duque de Berwick (1704)


Ao morrer Carlos II da Espanha, sem descendência (1700), designou para herdeiros da coroa Filipe de Bourbon, Duque de Anjou, neto e presumido herdeiro de Luís XIV, Rei de França. Por outro lado o Imperador da Alemanha, Leopoldo I, pretendia o trono para seu segundo filho, o Arquiduque Carlos da Áustria, mais tarde o Imperador Carlos VI da Alemanha.
Portugal, com D. Pedro II, apoiou a princípio o Duque de Anjou, aclamado depois Rei de Espanha com o nome de Filipe V. Porém, a pedido dos Ingleses, em breve seguia o partido do Ar­quiduque Carlos, entrando numa liga contra a França, de que faziam parte a Alemanha, a Holanda e a Inglaterra. Ao lado da França estavam a Baviera, a Espanha e Sabóia.
Deu-se o rompimento das hostilidades. Comandava as for­ças espanholas do Duque de Anjou (o Rei D. Filipe V) um Irlan­dês, o Duque de Berwick, marechal de França, que reforçou aquelas com 12.000 franceses, 40.000 tropas veteranas vindas da Itália e Países Baixos e que invadiu logo Portugal, pela Beira, em 7 de Maio de 1704, apoderando-se de Salvaterra do Ex­tremo, Segura, Monsanto, Idanha e Castelo Branco. Não tendo conseguido atravessar as Talhadas, passou o Tejo em Vila Velha de Ródão, entrando no Alentejo, fazendo assim a junção com outras tropas da mesma bandeira que tinham invadido esta província portuguesa e que ali se encontravam ainda.
Então, diz Carlos Selvagem, no seu «Portugal Militar», de entre os generais portugueses começou a despontar um verda­deiro cabo de guerra — o Marquês das Minas, general governa­dor das armas da Beira, que, reforçado por tropas do Minho e Trás-os-Montes, desceu de Almeida e recuperou sucessivamente Segura, Idanha, Zebreira, Ladoeiro, Castelo Branco, Ródão, etc. Foi em Maio de 1705, isto é, um ano depois.
No Alentejo era o Conde das Galveias quem dirigia as operações portuguesas. Invade também a fronteira espanhola e toma algumas povoações.
Em 1706, o exército português, comandado pelo Marquês das Minas, alcançando vitórias sucessivas, entrou em Madrid em 28 de Junho, donde se retirou pouco depois.
Estas guerras, motivadas pela sucessão ao trono de Espanha, só terminaram no reinado de D. João V, com o tratado de Utreque, que estabeleceu a paz de Portugal com a Espanha, em 1715, tendo sido assinado em 1712 um armistício entre as duas nações.
Embora Portugal não tivesse tirado vantagens destas guerras, afirmou energicamente, perante a Espanha, com as armas na mão, que era uma potência europeia e que as experiências de 1580 e de 1661 não poderiam tornar a repetir-se.

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