quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sopa de Lebre


receita tradicional do Ladoeiro

Corta-se a lebre aos bocados, tempera-se com os dentes de alho pisados com sal em almofariz e rega-se com vinho tinto (bom).
No dia seguinte pôe-se ao lume cebola e dentes de alho picados com as gorduras e a folha de louro e deixa-se alourar . Junta-se a lebre, e refoga-se um bocadinho, adicionam-se os temperos. Deixa-se cozer em lume branco e vai-se acrescentando cerveja e, se necessário um pouco do vinho tinto. Por fim deita-se o vinho do Porto.
Depois de cozida desfia-se toda e acrescenta-se o caldo com a água quente necessária. Deita-se a lebre desfiada no caldo e mistura-se o pão entretanto cortado em fatias, que se devem desfazem com uma colher de pau. Serve-se bem quente.
Ingredientes:
1 lebre com cerca de 1,5kg,
5 dentes de alho,
1 cebola grande,
130gr de banha,
1dl de azeite,
1 colher de concentrado de tomate( desfeito em 0,5dl de água),
1 colher de mostarda em grão,
2 cravos da Índia,
4 grãos de pimenta,
Noz moscada,
Sal,
Folha de louro,
4dl de vinho tinto,
2dl de cerveja,
1 cálice de vinho do Porto,
1,7dl de água,
125gr de pão duro.

domingo, 24 de junho de 2012

Lenda d’a maldição da bruxa


Certo dia no Ladoeiro, uma mulher estava na rua a pentear a sua filha que tinha uns longos cabelos. Naquela hora, passou uma mulher que segundo as pessoas da aldeia era bruxa e passou as suas mãos pelos cabelos dizendo: “- Que lindos cabelos”.
Passado algum tempo, a rapariga começa a gritar que lhe doía a cabeça. Os cabelos começaram também a cair. Mais tarde a mãe lembra-se do que tinha sucedido e mete um caldeiro ao lume com a água a ferver onde mete a roupa da filha e pica-a com um espeto. Algum tempo depois a mulher (bruxa) aparece a chorar à porta a pedir para não lhe picarem mais.
Histórias e Superstições na Beira Baixa de José Carlos Duarte Moura foto da internet

sábado, 23 de junho de 2012

Lenda d’a casa assombrada


Havia no Ladoeiro uma casa que segundo o povo ninguém queria para lá ir a morar.
Mas um casal recém casado e não tendo mais nenhum sítio para morar decide 
habitá-la.
Segundo as pessoas todos os dias à noite quando estavam na cama o casal ouvia uma “coisa” a bater na parede. Certa noite, o homem já aborrecido com a situação e procurando descobrir a origem daquele barulho, decide bater na parede com um martelo e é então que um buraco se abre na parede e o homem sente que algo lhe deu uma estalada. A verdade é nunca se chegou a descobrir o que havia lá em casa.
Histórias e Superstições na Beira Baixa de José Carlos Duarte Moura    foto da internet

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Lenda d’o Lobisomem



Aqui como em muitos locais são um dos entes temídos, ou pelo menos respeitados, dando aso a diversas histórias a este respeito. Diz-se que os lobisomens aparecem em noites de lua cheia. Quando chega determinada hora da noite os homens transforma-se. Nas aldeias da Raia (Ladoeiro, Penha Garcia, Salvador) contaram-nos que os lobisomens se juntam para irem percorrer sete vilas acasteladas. (Neste caso os locais mais próximos que têm castelo e que são: Penha Garcia, Monsanto, Idanha a Velha, Idanha a Nova, Penamacor, Salvaterra e Bemposta) daí termos em linha de conta o número sete.
Aqui diz-se que a transformação destes seres se faria por vezes em espojeiros. Ou seja, espojavam-se no primeiro espojeiro que encontravam transformando-se em cavalos ou burros. Aqui ao contrário do que acontece noutros locais, os lobisomens não são sempre homens que se transformam em burros mas também em touros e cães. Somente depois de transformados é que todos juntos os das redondezas, iam fazer os seus trabalhos de satanás pelas sete vilas acasteladas.
A transformação para o estado normal era feita do mesmo modo espojavam-se antes do nascer do dia e só então podiam regressar a casa. Diz-se aqui, “ai daquele que não se transforma-se durante aquela determinada hora, pois ficava petrificado não se podendo transformar até ao dia seguinte”. Disseram-nos que por isso muitos homens andavam desaparecidos durante vários dias.
Histórias e Superstições na Beira Baixa de José Carlos Duarte Moura

terça-feira, 19 de junho de 2012

Lenda do cabrito


Um dia um homem que vivia numa quinta, veio ao Ladoeiro ao baile. Quando ia para casa já de noite, encontrou um cabrito pelo caminho, ficou todo contente e meteu-o às costas. O homem ia todo feliz porque tinha encontrado um cabrito para matar e comer.
Mas quando ia a chegar a casa o cabrito bate os dente e as patas e foge. Diz-se no povo que era o demónio que o homem levava às costas. 
Histórias e Superstições na Beira Baixa de José Carlos Duarte Moura


domingo, 10 de junho de 2012

Combate do Ladoeiro


22 de Agosto de 1810


Com a retirada das tropas francesas do Norte de Portugal em 1809, ficou claramente perceptível que os franceses nunca aceitariam a presença de um numeroso contingente militar britânico na Península Ibérica e que voltariam, no­vamente, a invadir Portugal. É assim que Arthur Wellesley (Duque de Wel-lington), comandante-chefe do corpo expedicionário britânico, e perante a ameaça de uma nova invasão fran­cesa ordenou a construção das Linhas de Torres, obra iniciada em Novembro de 1809 e destinada a impedir o acesso dos invasores fran­ceses a Lisboa. Ao mesmo tempo, o dispositivo militar luso-britânico era posicio­nado pelo país, o reorga­nizado Exército Português encontrava-se já há algum tempo sob o comando de William Beresford e com a maior parte das unidades enquadradas por oficiais ingleses.
No dia 24 de Julho de 181º sob o comande do Marechal Massena, O Filho Querido da Vitória, entravam de novo em Portugal pela fronteira da Beira Alta, derrotaram as tropas luso-britâncias na Batalha do Côa e iniciaram o cerco da Praça de Almeida. A Beira Baixa, que tanto sofrera com a primeira in­vasão, foi novamente palco , durante o início da terceira invasão francesa de vários confrontos com as tropas francesas, episódios pouco conhecidos, uma vez que sobre a última invasão só se menciona o cerco e queda da Praça de Almeida, a Batalha do Buçaco e das Linhas de Torres. É, pois, o objectivo deste pequeno trabalho, dar a conhecer um combate ocor­rido nas proximidades do Ladoeiro, no dia 22 de Agosto de 1810.
Ainda antes de as tropas francesas entrarem em Por­tugal, no dia 22 de Julho de 1810, o GeneralReynier, comandante do 2° Corpo do exército invasor, estabele­ceu o seu quartel-general na localidade fronteiriça de Zarza Ia Mayor. Perante a ameaça de nova entrada em Portugal, pela Beira Baixa, e avanço pela linha doTejo, Wellesley,  que se posicio­nara no Vale do Mondego (onde se esperava o principal avanço do exército invasor), transferiu do Alentejo a 2ª Divisão britânica, coman­dada pelo Tenente-General Hill, instalando-se a infan­taria na zona das Sarzedas e a cavalaria com a missão de vigilância entre o Rio Pônsul e a fronteira espanhola.
As tropas francesas do General Reynier, posiciona­das junto à fronteira tinham por objectivo assegurar o controlo desta zona e evitar qualquer reacção que pusesse em causa o avanço de Massena pelo Vale do Mondego, na direcção de Coimbra e posterior chegada a Lis­boa. Assim, os confrontos que se registaram na Beira Baixa durante esta invasão limitaram-se a pequenos, mas violentos combates, que envolveram praticamente só forças de cavalaria, que realizavam missões de recon­hecimento. O primeiro destes confrontos ocorreu no dia 24 de Julho, com o combate de Salvaterra do Extremo, em que uma pequena força de reconhecimento fran­cesa, composta por tropas de infantaria e cavalaria, foi derrotada por uma força portuguesa constituída por 208 homens dos Regimen­tos de Cavalaria 5 e 11. O segundo combate ocorreu na aldeia de Alcafozes, em que uma força de vinte e um homens do Regimento de Cavalaria n° l, derrotaram uma patrulha francesa que se encontrava na zona. No dia 3 de Agosto de 1810, um novo confronto envolveu uma força constituída por cento e dois homens do Regimento de Cavalaria n° l, sob o comando do Coronel Cris­tóvão da Costa de Athayde Teive que derrotou na Ata­laia (concelho do Fundão), com uma valente carga, uma força francesa composta por sessenta homens, deixando mortos e feridos mais de trinta soldados, pondo em fuga o resto, aprisionando depois catorze.
No dia 22 de Agosto de 1810, um esquadrão inglês do 13° Regimento de Dragões Ligeiros e um esquadrão português do Regimento de Cavalaria n° 4, sob o co­mando do Capitão William White, em missão de patrulha próximo do Ladoeiro, encon­traram uma patrulha francesa a efectuar reconhecimento à zona, composta por ses­senta cavaleiros. De imediato ,as tropas luso-britânicas se preparam para o combate, mas os franceses retiram, são perseguidos a galope durante cerca de seis milhas, até que os franceses passam uma linha de água (cujo nome é desconhecido, pois ajudaria a localizar com exactidão o local do combate), e mais à frente, colocam-se em formação para o combate. As também essa linha de água, formam com frente de três e carregam violentamente sobre o inimigo, conseguindo em pouco tempo derrotá-lo e aprisionar dois tenentes, três sargentos, seis cabos, um clarim e cinquenta soldados. Diz o Brigadeiro Fane (1) em comunicação ao Tenente-General Hilí acerca do com­bate do Ladoeiro Julgo-me feliz em poder dizer, que isto se fez sem perder um só homem da nossa parte. Seis do inimigo ficaram feri­dos. Vários cavalos ficaram feridos com golpes de sabre e todos os cavalos franceses foram capturados.
Neste combate destac­aram-se pela sua valentia, reconhecida até pelos prisio­neiros franceses, para além do Capitão White, o Major Charles Albert Vigoureux, do 38° Regimento de Infantaria inglês, que se encontrava na zona para obtenção de informações que ao avistar os franceses solicitou ao Capitão White um cavalo para par­que realizava a sua missão apeado, tendo sido ele quem aceitou a rendição do coman­dante francês. Destacou-se, também, pela sua coragem o Tenente Turner do 13° Regi­mento de Dragões Ligeiros. Quanto ao comandante do esquadrão- português, o Al­feres Pedro Raymundo de Oliveira    fizera o seu de­ver extremamente bem, e mostrara muito valor. Pela distinta conduta neste com­bate, o Alferes Oliveira foi promovido, por distinção, ao posto de Tenente, por ordem do Marechal Beresford.
Ao serem avistados os franceses o Capitão White tinha solicitado, por estafeta, ajuda ao seu regimento esta­cionado nos Escalos de Cima, mas quando esses reforços comandados pelo Capitão Macalester, chegaram já o combate tinha terminado há muito tempo e retirando-se nessa mesma tarde, para o bivaque nos Escalos de Cima.
Quanto aos prisioneiros franceses, estes foram trata­dos com grande humanidade e mais tarde transferidos para Castelo Branco e entregues ao Tenente-General Hill. Mas a confusão que se seguiu após o combate permitiu que o capitão francês, que também fora aprisionado, e alguns soldados fugissem, acabando no entanto por ser mortos. Segundo William Harre [2], os fugitivos acabaram por ser mortos pela população, concretizando desta forma aquilo que Wellesly tinha escrito numa carta ao irmão, dois dias antes por trás de cada muro de pedra, os franceses encontrarão um inimigo.
O combate do Ladoeiro aparece em muitas fontes portuguesas e inglesas, erra­damente designado como Ladoeira, Ladoira ou Ladoera. Curiosamente, aparece mais vezes errada a designação em fontes portuguesas do que inglesas, mas isso não impede que a localização seja feita correctamente, como próximo do Ladoeiro, freguesia do concelho de Idanha-a-Nova.
Os principais coman­dantes deste combate con­tinuaram durante a Guerra Peninsular a manter uma conduta distinta e, inclusi­vamente, a sofrer ferimentos em combate, nomeadamente o Capitão White em Sala­manca em 1812, e o Tenente Oliveira em Viella, em 1 8 1 4. Ambos regimentos luso-britânicos mantiveram, igual­mente em combate um com­portamento exemplar, tendo
Ligeiros participado, entre outros confrontos na Batalha de Waterloo e tendo o Regi­mento de Cavalaria n° 4, distinguindo-se em muitos outros combates e batalhas, nomeadamente no Buçaco e em Viella, conquistando arduamente a sua divisa Perguntai ao Inimigo Quem Somos, que também ajudou a ser ganha nos campos da Idanha.
Luís Manuel da Silva Guerra de Sousa

Notas
(1) O Brigadeiro Fane, era o co­mandante da cavalaria da 2ª divisão, à qual pertencia o 13° Regimento de Dragões Ligeiros e o Regimento de Cavalaria nº 4.
(2) William Warre, Major, Aju­dante de Campo de Beresford, teve conhecimento do combate através dos relatórios, pois na al­tura encontrava-se na Lageosa, onde escreveu a carta datada de 29 de Agosto de 1810, onde este combate é mencionado.
Bibliografia
- Barrett Charles Raymond Booth, History of XIII Hússars, volume l, W. Bláckwood & Sons, 1911.
- Chaby, Cláudio de, Excerptos Históricos e Collecção de Documentos Relativos à Guerra Denominada da Península" e à Anteriores, Imprensa Nacional, Lisboa, 1865.
- Gurwood, John (compilação), The Dispatches of Field Marshall The duke of Wellington During Hhis Various Campaígns, volume VDI, Londres, 1847.
- Hay, Andrew Leith, A Narrative of Ate Península War, 4* edição, John Heame, Londres, 1909.
- Simâo, José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabe­lecimento do Governo Parlamentar, volume* IV, Imprensa 'Nacional, 1876.
- Wárre, William, Letters fiom Península 1808-1812, Edmond Warre, Londres, 1909.
Fotos da internet

sábado, 9 de junho de 2012

Lenda das três palavras para achar o que se perdeu


Dizem que esta história aconteceu numa aldeia Raiana num local designado por Lapa, situado entre as fragas rochosas num dos locais mais levados da aldeia. Já era noite passava por ali uma mulher vinda da sua labuta diária num arraial, ainda, distante. 
Como quase todas as mulheres da aldeia, trazia o terço de que se fazia sempre acompanhar. Ao passar ali por entre as fragas, deixou cair o terço; como era de noite começou a procurá-lo com alguma dificuldade. Enquanto andava a procurar o terço ouviu uma voz que lhe disse: “Enxerga, enxerga pedra.”
A mulher de imediato encontrou o terço e fugiu dali assustada a rezar contra as almas do outro mundo. Dizem que o acontecido se soube e se espalhou por aquelas terras.
A partir deste caso quando por ali se perde alguma coisa, diz-se que isso produz um efeito mágico e a pessoa encontra o que perdeu.

Histórias e Superstições na Beira Baixa de José Carlos Duarte Moura, Castelo Branco, RVJ editores, 2008 foto da internet

sábado, 2 de junho de 2012

Lenda de Qual Delas


Era uma vez um rei mouro, muito mau, que vivia num palácio. Este rei tinha duas filhas gémeas.
O rei andava muito preocupado porque não conseguia distinguir as duas filhas, Záida e Salúquia. Elas bem se esforçavam para o ajudar, mas em vão.  O rei andava a ver se arranjava uma maneira de as conseguir distinguir.  Passado alguns dias, o rei pensou ter descoberto a maneira como as iria distinguir.  Mandou-as chamar e entregou à Zaida uma roca de prata e à Salúquia uma roca de ouro. Elas sorriam e aceitaram as rocas.  Mal tinham acabado de sair, o rei ficou com a dúvida se teria entregado as rocas ás respectivas princesas.  As duas irmãs viviam felizes, até que um dia começaram a ficar tristes e aborrecidas pois tinham o mesmo tom de voz. Elas combinaram não falarem uma com a outra, a não ser em caso de absoluta necessidade.  A partir desse dia cumpriram o que tinham combinado.  Até que um dia um cavaleiro cristão passou pelo palácio.  Nesse momento as pranchinhas encontravam-se na varanda.  - Quem sois vós?   perguntou a Zaida.
- Sou um cavaleiro cristão vindo de muito longe respondeu o cavaleiro virando o seu cavalo para a varanda.  Logo as princesinhas mouras entraram para o palácio sem lhe dizer mais nada.  Logo apareceu o rei dizendo:  - Como vos atreveis a entrar nas minhas terras! Cavaleiro cristão! Sai imediatamente daqui ou corto-te a cabeça!  O cavaleiro cristão obedeceu, mas foi teimoso e voltou na noite seguinte. Trepou até à varanda sem nenhum guarda o encontrar. Logo as princesinhas ficaram cheias de medo. O cavaleiro disse-lhes:  - Não tenham medo de mim! Não vos farei mal!  As princesinhas acalmaram-se:  - Cuidado, cavaleiro! Sai daqui! O meu pai vem aí!  Mas já era tarde. As portas do quarto abriram-se e o rei mouro apareceu.  - Então vós voltastes outra vez! Agora tereis que provar o aço da minha espada gritava o rei mouro.  - Eu também tenho uma espada dizia o cavaleiro Os dois desembainharam as espadas e começaram a lutar.  Depressa quem saiu vencedor foi o cavaleiro. Então mandou os soldados cristãos arrasarem o palácio.  Os soldados não perdoaram ninguém nem mesmo as princesas. O cavaleiro quando chegou ao quarto delas disse:  - Deus, o que é que eu posso fazer! Castigai-me! A culpa é toda minha!  O cavaleiro chorando disse:  - Qual delas, qual delas!  Em todo o quarto se ouviu a mesma coisa.  Depois o cavaleiro, com a sua espada matou-se mesmo por cima delas.  É por isso que a cidade onde se passou esta lenda chama-se Caldelas.
In www.eb1-castelejo.rcts.pt

No alto





sexta-feira, 1 de junho de 2012

Na parte alta da aldeia





Nota


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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Lenda de Santa Catarina de Sena




Andava um honrado lavrador a amanhar a terra com uma junta de vacas no sítio da Antinha, conta-se que um dos animais morreu repentinamente. Aflito e desgostoso com a perda de tão útil como necessário animal pôs-se o lavrador a chorar a sua pouca sorte, pois, acabava de perder o "ganha-pão" da sua numerosa e necessitada família e implorava, por isso, o auxílio divino. Apareceu-lhe , então, Santa Catarina que devolveu a vida ao animal e lhe ordenou para ir ao povoado contar o sucedido e dizer do seu desejo que naquele preciso local fosse eriguida uma capela em sua honra, mas com o alpendre voltado a poente.
Acudiram os habitantes a satisfazer prontamente o pedido mas virando o alpendre a nascente como era costume na época, pensando que o lavrador vidente se havia equivocado. No dia seguinte, porta e alpendre estavam caídas no chão. Refizeram a obra deixando na mesma o alpendre dirigido a nascente e de novo ele voltou a ruir. Convenceram-se, então, os habitantes de que o lavrador não se havia enganado e executam a obra segundo as indicações recebidas. E ainda hoje podemos apreciar a capela com a porta e o alpendre voltados a poente e, estamos certos, a fé dos ladoeirenses jamais deixará cair por terra este pequeno templo que tanto carinho e estima infunde ao povo do Ladoeiro.

In www.cm-idanhanova.pt

Romaria de Santa Catarina de Sena                                       

A romaria de Santa Catarina de Sena é uma das festas religiosas mais importantes desta localidade. Todos os anos na segunda-feira de Páscoa, os habitantes do Ladoeiro, uns a pé outros em carros, se dirigem á ermida cantando e chorando de alegria em acção de graças e implorar novos favores da Santa. Há relativamente pouco tempo, sempre que as condições atmosféricas não agradavam ou não convinham ás culturas, o povo juntava-se e ia a pé até à capela e traziam a Santa em procissão até à igreja da freguesia, onde a colocavam no lado direito do altar, lugar que também ocupa na própria capela. Era o bastante para que chovesse, se havia seca, ou brilhasse o sol, se não parava de chover.
Actualmente estas procissões não se verificam, não por falta de devoção popular, mas porque o Pároco se insurge contra estas tradições.

Ainda hoje Santa Catarina de Sena é venerada com muita devoção em especial pelos militares e suas famílias. É tal a fé depositada na Santa, pelos nossos soldados, que muitos depois da sua contribuição no Ultramar afirmavam terem-na visto em combate. Será ilusão ou não?
O que é certo é que nunca nenhum foi ceifado pela morte durante a vida militar, o que não aconteceu em nenhuma povoação vizinha.
Uma vez chegados a local, é celebrada missa campal, seguida de procissão em volta da capela, onde não falta a banda filarmónica. Depois da festa religiosa as pessoas reúnem-se aqui e acolá para saborearem ao ar livre as deliciosas merendas. É importante frisar que existem nesta festa quatro festeiras raparigas solteiras que orienta e organizam os festejos.

Monografia do Ladoeiro de Fátima Rodrigues, Universidade Lusófona, ISHT-Pólo de Castelo Branco


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Lenda da Nossa Senhora do Azinhal




Diz o povo, que um casal ao ir para a sua quinta, numa tarde de sol e ao subirem o cabeço do Azinhal, viram uma luz, onde lhes pareceu ver também Nossa Senhora.
Vieram para a povoação e fizeram tamanha propaganda que passando pouco tempo o local era frequentado até por pessoas que se deslocavam de outras terras para verem Nossa Senhora! Isto acontecia todos os dias à mesma hora.
A certa altura, a coisa atingiu  o seu limite e então as autoridades da povoação proibiram as pessoas de irem ao cabeço. Então as autoridades mandaram ir a povoação ao cabeço, a uma hora diferente da habitual.
Uma vez no cabeço, dois guardas viraram dois espelhos e fizeram aparecer uma luz. Isto acontecia devido à posição dos raios solares. Mas, como o ovo é muito religioso, disseram para as autoridades:
Vocês fizeram isso com arte e manha, mas nós vimos mesmo Nossa Senhora.
Desde aí o cabeço deixou de se chamar cabeço do azinhal, para se chamar cabeço de arte e manha; dito pelo povo cabeço de Artimanha. 

Monografia do Ladoeiro de Fátima Rodrigues,Universidade Lusófona,ISHT-Pólo de Castelo Branco

 

sábado, 26 de maio de 2012



Lenda d’A Senhora do Almortão

Certa madrugada, pastores e ganhões atravessavam o campo pelo sítio da Água Murta, para o labor quotidiano. Notaram então que, numa moita de murteiras grandes, havia algo de estranho.
Aproximaram-se e viram uma linda e resplandecente imagem da Virgem. Caindo de joelhos, exclamaram:
— Milagre! Milagre!
Resolveram então conduzir a imagem para a igreja de Monsanto. Mas ela desapareceu pouco depois e, procurada no local da aparição, lá estava exactamente no mesmo sítio. Tornaram a levá-la e aconteceu a mesma coisa, lá estava ela no lugar da aparição, no murtão.
E, respeitadores da vontade bem expressa da Senhora, os habitantes da vila construíram no local a capelinha. 

Mas Débora Ramos/Ana Luisa Campos Rolo contam a história da Senhora do Almortão, de uma outra maneira: 

«Há muitos, muitos anos, nos terrenos das imediações da actual ermida da Senhora do Almortão, crescia, por toda a parte, um arbusto chamado murta.
Havia, em Alcaíozes, um rapazinho que era pastor e vinha todos os dias com o seu rebanho para estes terrenos.
Um dia, andando ele a vigiar o seu rebanho, encontrou, no meio de uma moita de murta, uma linda imagem. Ficou muito contente e brincou com ela toda a tarde.
Quando se quis ir embora, meteu-a no sarrão, para a mostrar à mãe.
Ao chegar a casa, contou à mãe o que se passara, é quando ia para mostrar a bonequinha (como ele lhe chamava) não a encontrou.
No dia seguinte, veio encontrá-la de novo, no meio da moita da murta. Voltou a brincar com ela e, à tarde, meteu-a no sarrão para a levar. Todavia, ao chegar a casa, não a encontrou. E isto aconteceu durante vários dias. Estranhando o sucedido, o pastorinho e a mãe contaram-no a várias pessoas, que concluíram que a bonequinha era uma linda imagem da Senhora do Almortão e que deveriam fazer-lhe uma capela no sítio onde o rapazinho a encontrava sempre.
E, assim, fizeram a ermida e puseram à Senhora o nome de Almortão por ter aparecido no meio da murta.»


Passinhos de Nossa Senhora - Lendário Mariano de Fernanda Frazão, Lisboa, Apenas Livros   2006
fotos da Internet


A Caminho da avenida






quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lenda da Moura do Pontão

Ali, na povoação de Ladoeiro, o desenho da linha do horizonte não tem os caprichos de muitas das povoações da Beira. O sol ilumina sem cortinas nem cones de sombra. E a chuva cai direitinha do céu, sem resvalos. Por isso, nas noites de S. João, quando as fogueiras fazem elevar as chamas e o fumo sobe sem rodeios, esse espectáculo faz lembrar as enormes piras que o povo lusitano, antes da conquista cristã, fazia arder nesses mesmos campos, quando alguém que em vida se soubera impor era levado pela morte para o mistério da Eternidade.



Meio-dia. Sol a pino. Rapazes e raparigas cortam alcachofras e cantam alegremente na véspera de S. João. À noite, todos os jovens que aspiram ao casamento irão fazer as suas perguntas, enchendo a boca com água e deitando bochechos, quebrando os ovos de uma galinha preta, ou queimando alcachofras, para ver se elas voltam a florir. E as respostas surgirão depois. E os jovens ficarão sabendo se o seu amor é correspondido. Porém, algo mais se diz que poderia ser feito, à meia-noite da véspera de S. João. E isso é justamente o que deu azo à Lenda da Moura do Pontão. 



António afastou-se do grupo. O seu rosto moreno não mostrava alegria. Dir-se-ia mortificado por qualquer pensamento interior. A noite caíra devagar. A ceia fora rápida, porque a festa o chamava. No terreiro juntava-se a lenha, para lhe atear o fogo. A música encetava as suas primeiras notas. A mocidade agitava-se. Trocavam-se frases de duplo sentido e olhares que não deixavam dúvidas. Mas António fugira ao grupo. O seu rosto moreno não mostrava alegria...

De súbito, uma voz cariciosa chegou-lhe aos ouvidos. Chamava-o de mansinho:

— António? Aonde vais?
Ele assustou-se. Ali, a luz era pouca e a noite sem luar.
— Quem és tu?
— Sou a Belmira.
— Que fazes aqui?
— Vi que sofrias.
— Deixa-me!
Soou forte, agressiva, a voz do António. Mas Belmira continuou:
— Descansa, ninguém dará pela minha falta. Quem se importa com uma pobre coxa?
Tinha lágrimas na voz. António não soube que responder. Ela continuou:
— Contigo já é diferente. As raparigas vão notar que fugiste...
— Ninguém o notará!
— Notei eu... notará a Aninhas...
— Cala-te! A Aninhas tem cá o Vicente.
— É a ti que ela ama.
— Mas é com o outro que ela vai casar!
— Não o fará!
— Verás que sim. Aninhas gosta do luxo. E o outro é rico!
— Tu tens saúde e és trabalhador!
— Isso pouco vale ao pé dos homens que chegam do estrangeiro!
— Também o Vicente era pobre quando partiu daqui...
— Mas teve sorte!
— Talvez tu um dia ainda sejas rico...
— A riqueza não quer nada comigo!
— Que sabes tu disso? Já a tentaste?
— Trabalho! Que mais posso fazer? Que vá à meia-noite ao Pontão buscar as passas da moura?...
Coxeando, Belmira aproximou-se de António. Perguntou-lhe ansiosa:
— Tu acreditas, António? Acreditas na moura?
— Hoje acredito em tudo e não acredito em coisa nenhuma! Tanta jura… tanta crença… para nada! Mal volto costas, começam num namoro descarado!
— Não é ela. É o Vicente.
— Mas ela podia pô-lo a andar!
— A mãe dela apoia o casamento. Ajuda-o.
— Eu sei. Por isso odeio tudo isto: a aldeia, as mulheres... e os homens ricos!
— Nem todas merecem que as desprezes.
Num gesto irado, António partiu a varinha que trazia na mão.
— Desprezo-as a todas! As mulheres olham sempre mais alto. Sempre!
Belmira ficou calada por um instante. Depois concordou:
— Talvez tenhas razão. Olhamos sempre para mais alto... nem que seja com os olhos da alma. Depois... sofremos... mas não sabemos voltar atrás!
— Ainda bem que o reconheces!
E jogando longe a vara que tinha partido no seu desespero:
— Ah, se eu conseguisse dinheiro para atirar aos olhos da mãe da Aninhas!...
— Serias feliz?
Ele respondeu, rápido:
— Seria outro! Tenho a certeza de que seria outro. Verias como toda a gente se curvava diante de mim!
— Talvez. Mas... serias mais feliz?
— Porque perguntas isso?
— Bem... Gostaria de saber se, mesmo por dinheiro...
Ele irritou-se.
— És parva! Bem sabes o que o dinheiro vale. Quem gosta de mim, pobretana como sou?
— Algumas raparigas do lugar.
— Quem?
— Sei lá... Não devo ser eu quem te diga isso. Tu é que deves ver.
— Ver, o quê? Não estão elas a bailar e a saltar a fogueira? Quem deu pela minha falta?
— Eu!
— Tu?
— Eu, sim! Mas isso não tem importância. Verás que a Aninhas a esta hora já está inquieta. Anda, volta para as fogueiras!
— Contigo? Que vão dizer?
Ela limpou uma lágrima que teimou em correr-lhe e que António nem sequer notou.
— Não tenhas receio. Eu não vou já contigo.
— Ficas aqui sozinha?
— Não sou medrosa.
— Mentes! Esqueces acaso porque ficaste assim aleijada? Foi por correres, à noite, com medo dos fantasmas! Caíste e partiste a perna.
— Não foi dos fantasmas... Foi da moura do Pontão! De repente, vi que estava sozinha perto do sítio onde ela aparece. Tive medo, confesso!
— E não era a noite de S. João!
— Tens a certeza de que ela existe?
— Sei lá!
Silenciaram por segundos. Mas Belmira tornou:
— Talvez... Talvez não exista. Não pensemos mais nisso. Volta para a festa, António. Talvez amanhã o dia seja bom para ti! 
— Bom... porquê?
— Não sei... foi uma ideia que me veio de repente.
— Julgas que vou ao Pontão? Não! Bem sei que, se a moura me visse roubar-lhe as passas que se transformam em ouro, matar-me-ia. Uma mulher não vale a minha vida!
— Porque acreditas que a tua vida vale muito. E é verdade, António, a tua vale muito! Deixa a moura do Pontão! A fortuna virá de qualquer forma!
— Vamos então saltar as fogueiras?
— António, bem sabes que eu não posso. Vai tu. Eu fico para trás, e daqui a bocado aparecerei.
— Até já, então.
— Até já.
Antes de retirar-se, ele olhou a jovem.
— Belmira…
— Que há?
— Perdoa-me, se fui rude contigo! Estimo-te muito, acredita, mas…
— Bem sei. Também eu te estimo muito. Vai… e não te preocupes comigo. Já lá vou ter.
António voltou para o terreiro. Belmira nem se mexeu enquanto ouviu os passos dele, afastando-se. Depois... Depois, transida de medo, lá foi coxeando a caminho da Quelha do Pontão…

O local estava escuro. Em volta, apenas um ralo gritava ao mundo, de vez em quando, que também vivia. As ervas secas gemiam as suas agonias quando algum animal rasteiro as pisava. Era esse o único palpitar da noite na Quelha do Pontão.
Tremendo, coxeando, olhos abertos no escuro, ouvidos atentos ao menor ruído, coração batendo desabaladamente, o peito a arfar, Belmira oferecia o sacrifício de todo o seu terror e talvez da sua vida pela felicidade do António! Amava-o desde pequenina. Chegara mesmo a acalentar certas esperanças. Mas, aos quinze anos, acontecera-lhe partir a perna e ficar quase toda a noite no campo, desmaiada. Sem mãe, com um pai que andava sempre de terra em terra, vivia com uma velha parente que não sabia compreendê-la. Também não tinha amigas. As amigas querem sempre saber a quem pertence o coração das companheiras, quais os seus anseios, os seus desejos, os seus projectos… E se Belmira tinha anseios e desejos, não conseguia fazer projectos. Para quê? A vida mutilara-a. Pusera-a de lado. Esquecera-se de que ela tinha dezoito anos e um coração para amar!... Belmira chorava no silêncio da noite. Chorava de pavor e pena de si mesma. Mas a Quelha do Pontão estava à vista, e os foguetes, cortando o negrume e o silêncio, gritavam-lhe que a hora suprema chegara.
Aproximou-se. Lábios entreabertos, para respirar melhor, tremia como vime açoitado pelo vento. Zuniam-lhe os ouvidos. Murmurou:
— António! É por ti que faço isto. Quero que sejas feliz! Vou tentar retirar as passas que a moura puser na manta, sem que ela acorde. Mas se ela acordar... e eu morrer… morro feliz porque não te verei sofrer mais!...
Soluçava agora. De súbito ouviu um ruído estranho. Pôs-se de um salto mais para trás. Uma onda de calor subiu-lhe do peito e encheu-lhe o olhar. Nem sequer sentiu a dor, quando bateu com a cabeça no tronco da árvore cortada, e depois na pedra que servira de assento a algum mais afoito. Tudo voltou ao silêncio. Só ao longe os foguetes, subindo no ar, davam sinal de vida...

As fogueiras morriam na cinza ainda palpitante. António olhava Aninhas, com o amor a transbordar-lhe do peito. Ela deixava-se enlaçar enquanto dançavam. A certa altura perguntou-lhe:
— Por que fugiste?
Ele sorriu:
— Fui dar uma volta.
— Bem te vi afastar. Mas a minha mãe estava a meu lado, com o Vicente...
António excitou-se.
— Tens de ser forte, e escolher esta noite mesmo qual de nós preferes!
Ela sorriu-lhe.
— Como podes pensar que eu escolheria outro que não fosses tu?
O moço apertou-a mais a si. Depois, como quem reflecte:
— Tinha razão, a Belmira!
Aninhas surpreendeu-se:
— Razão? Porquê?
— Porque há bocado afirmou-me que tu tinhas dado pela minha falta.
— Ela esteve a falar contigo?
— Sim, falámos de ti. E do Vicente... E de mim...
Uma pontinha de ciúme fez Aninhas parar de bailar:
— Ouve, António. Decerto já reparaste como ela olha para ti!
— Não.
— Pois olha que todos sabem que ela bebe os ares pelo António... É a voz do povo.
— Pobre rapariga!
E reparando melhor:
— É verdade… onde estará ela? Já cá devia estar.
— Devia? Então é que combinaram que ela viria depois de ti... à socapa, para que ninguém notasse...
A dança parou por um instante. António sorriu contente com essa demonstração de ciúme.
— A Belmira? Coitada, é uma pobre aleijada! Não tenhas receio. No entanto... deixei-a sozinha, às escuras... e ela já cá devia estar.
Aninhas embespinhou-se:
— Se te parece... vai procurá-la! Quando voltares encontras-me no braços do Vicente!
Ele deu-lhe um apertão na anca.
— Livra-te disso!
Então Aninhas suplicou:
— Fica comigo! Ela não pode saltar a fogueira nem bailar como as outras raparigas, e decerto já foi para a cama.
A musica recomeçara, António concordou:
— É o mais certo. Vamos dançar esta moda?
E os dois, rodopiando, voltaram a embriagar-se nas voltas de uma modinha...

Conta a lenda que só de manhã encontraram o corpo sem vida de Belmira, a pobre aleijadinha. E houve logo quem comentasse:
— Para que foi ela ao Pontão? Todos sabemos que esta moura não é para graças! Outros mais afoitos não vão lá... e ela atreveu-se! Que isto sirva de aviso a toda a gente!
Em casa, Aninhas lembrou à mãe:
— Veja lá... O desejo de ser rico… às vezes pode matar! Belmira pensou, talvez, que o dinheiro lhe daria uma perna nova… ou um noivo bonito, como o António... Mas a moura do Pontão não a deixou voltar!
Porém, sem falar a ninguém e chorando no íntimo do seu ser, António dizia de si para si:
— Foi por mim... eu sei que foi por mim que ela fez o que fez… Maldita moura do Pontão!

Lendas de Portugal de Gentil Marques, Círculo de Leitores, 1997 [1962] .

Notas e comentários

Ladoeiro - Freguesia do concelho e comarca de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco. É uma terra fértil, alegre na Primavera e no Verão. Triste quando as chuvas encharcam os campos sem relva. A sua população, com  mais de dois mil habitantes, é laboriosa e apegada à terra que a viu nascer, embora os “ares do estrangeiro” comecem agora a fazê-la sentir certa curiosidade pela vida fora dali…

Noite de S. João - É a noite de 23 para 24 de Junho, data em que a Igreja celebra o nascimento de S. João Baptista. É uso entre o nosso povo que a mocidade se recreie saltando fogueiras e jogando diversos jogos, nos quais vão procurar respostas para as perguntas dos seus corações em idade de amor.

Piras - Fogueiras em que os antigos reduziam a cinzas os cadáveres, ou nas quais queimavam vivas pessoas condenadas ao suplicio do fogo.

Pontão - Espécie de jangada presa nas extremidades a um grosso cabo, nas margens dos rios, que muitas vezes serve de cais de embarque. No caso da nossa lenda deve tratar-se do pontão do rio Ponsul.

As Passas - Diz a lenda que a dita moura da Quelha do Pontão só à meia-noite da véspera de S. João é que colocava numa manta uma enorme quantidade de passas, que se transformariam em ouro, se alguém tivesse a coragem de as ir buscar sem acordar. Acordando-a, porém, acordaria nela igualmente o génio do mal que a encantara, e o ousado que ali fora buscar o ouro ficaria perdido para sempre…

Voz do Povo - O que os indivíduos da mesma terra ou do mesmo país são unânimes em dizer, surge como uma só voz. E é tal a certeza de que o povo não se engana quando tem um só pensamento, que nascem daí o adágio popular: “Voz do povo é voz de Deus”.


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