quinta-feira, 31 de maio de 2012

Lenda de Santa Catarina de Sena




Andava um honrado lavrador a amanhar a terra com uma junta de vacas no sítio da Antinha, conta-se que um dos animais morreu repentinamente. Aflito e desgostoso com a perda de tão útil como necessário animal pôs-se o lavrador a chorar a sua pouca sorte, pois, acabava de perder o "ganha-pão" da sua numerosa e necessitada família e implorava, por isso, o auxílio divino. Apareceu-lhe , então, Santa Catarina que devolveu a vida ao animal e lhe ordenou para ir ao povoado contar o sucedido e dizer do seu desejo que naquele preciso local fosse eriguida uma capela em sua honra, mas com o alpendre voltado a poente.
Acudiram os habitantes a satisfazer prontamente o pedido mas virando o alpendre a nascente como era costume na época, pensando que o lavrador vidente se havia equivocado. No dia seguinte, porta e alpendre estavam caídas no chão. Refizeram a obra deixando na mesma o alpendre dirigido a nascente e de novo ele voltou a ruir. Convenceram-se, então, os habitantes de que o lavrador não se havia enganado e executam a obra segundo as indicações recebidas. E ainda hoje podemos apreciar a capela com a porta e o alpendre voltados a poente e, estamos certos, a fé dos ladoeirenses jamais deixará cair por terra este pequeno templo que tanto carinho e estima infunde ao povo do Ladoeiro.

In www.cm-idanhanova.pt

Romaria de Santa Catarina de Sena                                       

A romaria de Santa Catarina de Sena é uma das festas religiosas mais importantes desta localidade. Todos os anos na segunda-feira de Páscoa, os habitantes do Ladoeiro, uns a pé outros em carros, se dirigem á ermida cantando e chorando de alegria em acção de graças e implorar novos favores da Santa. Há relativamente pouco tempo, sempre que as condições atmosféricas não agradavam ou não convinham ás culturas, o povo juntava-se e ia a pé até à capela e traziam a Santa em procissão até à igreja da freguesia, onde a colocavam no lado direito do altar, lugar que também ocupa na própria capela. Era o bastante para que chovesse, se havia seca, ou brilhasse o sol, se não parava de chover.
Actualmente estas procissões não se verificam, não por falta de devoção popular, mas porque o Pároco se insurge contra estas tradições.

Ainda hoje Santa Catarina de Sena é venerada com muita devoção em especial pelos militares e suas famílias. É tal a fé depositada na Santa, pelos nossos soldados, que muitos depois da sua contribuição no Ultramar afirmavam terem-na visto em combate. Será ilusão ou não?
O que é certo é que nunca nenhum foi ceifado pela morte durante a vida militar, o que não aconteceu em nenhuma povoação vizinha.
Uma vez chegados a local, é celebrada missa campal, seguida de procissão em volta da capela, onde não falta a banda filarmónica. Depois da festa religiosa as pessoas reúnem-se aqui e acolá para saborearem ao ar livre as deliciosas merendas. É importante frisar que existem nesta festa quatro festeiras raparigas solteiras que orienta e organizam os festejos.

Monografia do Ladoeiro de Fátima Rodrigues, Universidade Lusófona, ISHT-Pólo de Castelo Branco


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Lenda da Nossa Senhora do Azinhal




Diz o povo, que um casal ao ir para a sua quinta, numa tarde de sol e ao subirem o cabeço do Azinhal, viram uma luz, onde lhes pareceu ver também Nossa Senhora.
Vieram para a povoação e fizeram tamanha propaganda que passando pouco tempo o local era frequentado até por pessoas que se deslocavam de outras terras para verem Nossa Senhora! Isto acontecia todos os dias à mesma hora.
A certa altura, a coisa atingiu  o seu limite e então as autoridades da povoação proibiram as pessoas de irem ao cabeço. Então as autoridades mandaram ir a povoação ao cabeço, a uma hora diferente da habitual.
Uma vez no cabeço, dois guardas viraram dois espelhos e fizeram aparecer uma luz. Isto acontecia devido à posição dos raios solares. Mas, como o ovo é muito religioso, disseram para as autoridades:
Vocês fizeram isso com arte e manha, mas nós vimos mesmo Nossa Senhora.
Desde aí o cabeço deixou de se chamar cabeço do azinhal, para se chamar cabeço de arte e manha; dito pelo povo cabeço de Artimanha. 

Monografia do Ladoeiro de Fátima Rodrigues,Universidade Lusófona,ISHT-Pólo de Castelo Branco

 

sábado, 26 de maio de 2012



Lenda d’A Senhora do Almortão

Certa madrugada, pastores e ganhões atravessavam o campo pelo sítio da Água Murta, para o labor quotidiano. Notaram então que, numa moita de murteiras grandes, havia algo de estranho.
Aproximaram-se e viram uma linda e resplandecente imagem da Virgem. Caindo de joelhos, exclamaram:
— Milagre! Milagre!
Resolveram então conduzir a imagem para a igreja de Monsanto. Mas ela desapareceu pouco depois e, procurada no local da aparição, lá estava exactamente no mesmo sítio. Tornaram a levá-la e aconteceu a mesma coisa, lá estava ela no lugar da aparição, no murtão.
E, respeitadores da vontade bem expressa da Senhora, os habitantes da vila construíram no local a capelinha. 

Mas Débora Ramos/Ana Luisa Campos Rolo contam a história da Senhora do Almortão, de uma outra maneira: 

«Há muitos, muitos anos, nos terrenos das imediações da actual ermida da Senhora do Almortão, crescia, por toda a parte, um arbusto chamado murta.
Havia, em Alcaíozes, um rapazinho que era pastor e vinha todos os dias com o seu rebanho para estes terrenos.
Um dia, andando ele a vigiar o seu rebanho, encontrou, no meio de uma moita de murta, uma linda imagem. Ficou muito contente e brincou com ela toda a tarde.
Quando se quis ir embora, meteu-a no sarrão, para a mostrar à mãe.
Ao chegar a casa, contou à mãe o que se passara, é quando ia para mostrar a bonequinha (como ele lhe chamava) não a encontrou.
No dia seguinte, veio encontrá-la de novo, no meio da moita da murta. Voltou a brincar com ela e, à tarde, meteu-a no sarrão para a levar. Todavia, ao chegar a casa, não a encontrou. E isto aconteceu durante vários dias. Estranhando o sucedido, o pastorinho e a mãe contaram-no a várias pessoas, que concluíram que a bonequinha era uma linda imagem da Senhora do Almortão e que deveriam fazer-lhe uma capela no sítio onde o rapazinho a encontrava sempre.
E, assim, fizeram a ermida e puseram à Senhora o nome de Almortão por ter aparecido no meio da murta.»


Passinhos de Nossa Senhora - Lendário Mariano de Fernanda Frazão, Lisboa, Apenas Livros   2006
fotos da Internet


A Caminho da avenida






quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lenda da Moura do Pontão

Ali, na povoação de Ladoeiro, o desenho da linha do horizonte não tem os caprichos de muitas das povoações da Beira. O sol ilumina sem cortinas nem cones de sombra. E a chuva cai direitinha do céu, sem resvalos. Por isso, nas noites de S. João, quando as fogueiras fazem elevar as chamas e o fumo sobe sem rodeios, esse espectáculo faz lembrar as enormes piras que o povo lusitano, antes da conquista cristã, fazia arder nesses mesmos campos, quando alguém que em vida se soubera impor era levado pela morte para o mistério da Eternidade.



Meio-dia. Sol a pino. Rapazes e raparigas cortam alcachofras e cantam alegremente na véspera de S. João. À noite, todos os jovens que aspiram ao casamento irão fazer as suas perguntas, enchendo a boca com água e deitando bochechos, quebrando os ovos de uma galinha preta, ou queimando alcachofras, para ver se elas voltam a florir. E as respostas surgirão depois. E os jovens ficarão sabendo se o seu amor é correspondido. Porém, algo mais se diz que poderia ser feito, à meia-noite da véspera de S. João. E isso é justamente o que deu azo à Lenda da Moura do Pontão. 



António afastou-se do grupo. O seu rosto moreno não mostrava alegria. Dir-se-ia mortificado por qualquer pensamento interior. A noite caíra devagar. A ceia fora rápida, porque a festa o chamava. No terreiro juntava-se a lenha, para lhe atear o fogo. A música encetava as suas primeiras notas. A mocidade agitava-se. Trocavam-se frases de duplo sentido e olhares que não deixavam dúvidas. Mas António fugira ao grupo. O seu rosto moreno não mostrava alegria...

De súbito, uma voz cariciosa chegou-lhe aos ouvidos. Chamava-o de mansinho:

— António? Aonde vais?
Ele assustou-se. Ali, a luz era pouca e a noite sem luar.
— Quem és tu?
— Sou a Belmira.
— Que fazes aqui?
— Vi que sofrias.
— Deixa-me!
Soou forte, agressiva, a voz do António. Mas Belmira continuou:
— Descansa, ninguém dará pela minha falta. Quem se importa com uma pobre coxa?
Tinha lágrimas na voz. António não soube que responder. Ela continuou:
— Contigo já é diferente. As raparigas vão notar que fugiste...
— Ninguém o notará!
— Notei eu... notará a Aninhas...
— Cala-te! A Aninhas tem cá o Vicente.
— É a ti que ela ama.
— Mas é com o outro que ela vai casar!
— Não o fará!
— Verás que sim. Aninhas gosta do luxo. E o outro é rico!
— Tu tens saúde e és trabalhador!
— Isso pouco vale ao pé dos homens que chegam do estrangeiro!
— Também o Vicente era pobre quando partiu daqui...
— Mas teve sorte!
— Talvez tu um dia ainda sejas rico...
— A riqueza não quer nada comigo!
— Que sabes tu disso? Já a tentaste?
— Trabalho! Que mais posso fazer? Que vá à meia-noite ao Pontão buscar as passas da moura?...
Coxeando, Belmira aproximou-se de António. Perguntou-lhe ansiosa:
— Tu acreditas, António? Acreditas na moura?
— Hoje acredito em tudo e não acredito em coisa nenhuma! Tanta jura… tanta crença… para nada! Mal volto costas, começam num namoro descarado!
— Não é ela. É o Vicente.
— Mas ela podia pô-lo a andar!
— A mãe dela apoia o casamento. Ajuda-o.
— Eu sei. Por isso odeio tudo isto: a aldeia, as mulheres... e os homens ricos!
— Nem todas merecem que as desprezes.
Num gesto irado, António partiu a varinha que trazia na mão.
— Desprezo-as a todas! As mulheres olham sempre mais alto. Sempre!
Belmira ficou calada por um instante. Depois concordou:
— Talvez tenhas razão. Olhamos sempre para mais alto... nem que seja com os olhos da alma. Depois... sofremos... mas não sabemos voltar atrás!
— Ainda bem que o reconheces!
E jogando longe a vara que tinha partido no seu desespero:
— Ah, se eu conseguisse dinheiro para atirar aos olhos da mãe da Aninhas!...
— Serias feliz?
Ele respondeu, rápido:
— Seria outro! Tenho a certeza de que seria outro. Verias como toda a gente se curvava diante de mim!
— Talvez. Mas... serias mais feliz?
— Porque perguntas isso?
— Bem... Gostaria de saber se, mesmo por dinheiro...
Ele irritou-se.
— És parva! Bem sabes o que o dinheiro vale. Quem gosta de mim, pobretana como sou?
— Algumas raparigas do lugar.
— Quem?
— Sei lá... Não devo ser eu quem te diga isso. Tu é que deves ver.
— Ver, o quê? Não estão elas a bailar e a saltar a fogueira? Quem deu pela minha falta?
— Eu!
— Tu?
— Eu, sim! Mas isso não tem importância. Verás que a Aninhas a esta hora já está inquieta. Anda, volta para as fogueiras!
— Contigo? Que vão dizer?
Ela limpou uma lágrima que teimou em correr-lhe e que António nem sequer notou.
— Não tenhas receio. Eu não vou já contigo.
— Ficas aqui sozinha?
— Não sou medrosa.
— Mentes! Esqueces acaso porque ficaste assim aleijada? Foi por correres, à noite, com medo dos fantasmas! Caíste e partiste a perna.
— Não foi dos fantasmas... Foi da moura do Pontão! De repente, vi que estava sozinha perto do sítio onde ela aparece. Tive medo, confesso!
— E não era a noite de S. João!
— Tens a certeza de que ela existe?
— Sei lá!
Silenciaram por segundos. Mas Belmira tornou:
— Talvez... Talvez não exista. Não pensemos mais nisso. Volta para a festa, António. Talvez amanhã o dia seja bom para ti! 
— Bom... porquê?
— Não sei... foi uma ideia que me veio de repente.
— Julgas que vou ao Pontão? Não! Bem sei que, se a moura me visse roubar-lhe as passas que se transformam em ouro, matar-me-ia. Uma mulher não vale a minha vida!
— Porque acreditas que a tua vida vale muito. E é verdade, António, a tua vale muito! Deixa a moura do Pontão! A fortuna virá de qualquer forma!
— Vamos então saltar as fogueiras?
— António, bem sabes que eu não posso. Vai tu. Eu fico para trás, e daqui a bocado aparecerei.
— Até já, então.
— Até já.
Antes de retirar-se, ele olhou a jovem.
— Belmira…
— Que há?
— Perdoa-me, se fui rude contigo! Estimo-te muito, acredita, mas…
— Bem sei. Também eu te estimo muito. Vai… e não te preocupes comigo. Já lá vou ter.
António voltou para o terreiro. Belmira nem se mexeu enquanto ouviu os passos dele, afastando-se. Depois... Depois, transida de medo, lá foi coxeando a caminho da Quelha do Pontão…

O local estava escuro. Em volta, apenas um ralo gritava ao mundo, de vez em quando, que também vivia. As ervas secas gemiam as suas agonias quando algum animal rasteiro as pisava. Era esse o único palpitar da noite na Quelha do Pontão.
Tremendo, coxeando, olhos abertos no escuro, ouvidos atentos ao menor ruído, coração batendo desabaladamente, o peito a arfar, Belmira oferecia o sacrifício de todo o seu terror e talvez da sua vida pela felicidade do António! Amava-o desde pequenina. Chegara mesmo a acalentar certas esperanças. Mas, aos quinze anos, acontecera-lhe partir a perna e ficar quase toda a noite no campo, desmaiada. Sem mãe, com um pai que andava sempre de terra em terra, vivia com uma velha parente que não sabia compreendê-la. Também não tinha amigas. As amigas querem sempre saber a quem pertence o coração das companheiras, quais os seus anseios, os seus desejos, os seus projectos… E se Belmira tinha anseios e desejos, não conseguia fazer projectos. Para quê? A vida mutilara-a. Pusera-a de lado. Esquecera-se de que ela tinha dezoito anos e um coração para amar!... Belmira chorava no silêncio da noite. Chorava de pavor e pena de si mesma. Mas a Quelha do Pontão estava à vista, e os foguetes, cortando o negrume e o silêncio, gritavam-lhe que a hora suprema chegara.
Aproximou-se. Lábios entreabertos, para respirar melhor, tremia como vime açoitado pelo vento. Zuniam-lhe os ouvidos. Murmurou:
— António! É por ti que faço isto. Quero que sejas feliz! Vou tentar retirar as passas que a moura puser na manta, sem que ela acorde. Mas se ela acordar... e eu morrer… morro feliz porque não te verei sofrer mais!...
Soluçava agora. De súbito ouviu um ruído estranho. Pôs-se de um salto mais para trás. Uma onda de calor subiu-lhe do peito e encheu-lhe o olhar. Nem sequer sentiu a dor, quando bateu com a cabeça no tronco da árvore cortada, e depois na pedra que servira de assento a algum mais afoito. Tudo voltou ao silêncio. Só ao longe os foguetes, subindo no ar, davam sinal de vida...

As fogueiras morriam na cinza ainda palpitante. António olhava Aninhas, com o amor a transbordar-lhe do peito. Ela deixava-se enlaçar enquanto dançavam. A certa altura perguntou-lhe:
— Por que fugiste?
Ele sorriu:
— Fui dar uma volta.
— Bem te vi afastar. Mas a minha mãe estava a meu lado, com o Vicente...
António excitou-se.
— Tens de ser forte, e escolher esta noite mesmo qual de nós preferes!
Ela sorriu-lhe.
— Como podes pensar que eu escolheria outro que não fosses tu?
O moço apertou-a mais a si. Depois, como quem reflecte:
— Tinha razão, a Belmira!
Aninhas surpreendeu-se:
— Razão? Porquê?
— Porque há bocado afirmou-me que tu tinhas dado pela minha falta.
— Ela esteve a falar contigo?
— Sim, falámos de ti. E do Vicente... E de mim...
Uma pontinha de ciúme fez Aninhas parar de bailar:
— Ouve, António. Decerto já reparaste como ela olha para ti!
— Não.
— Pois olha que todos sabem que ela bebe os ares pelo António... É a voz do povo.
— Pobre rapariga!
E reparando melhor:
— É verdade… onde estará ela? Já cá devia estar.
— Devia? Então é que combinaram que ela viria depois de ti... à socapa, para que ninguém notasse...
A dança parou por um instante. António sorriu contente com essa demonstração de ciúme.
— A Belmira? Coitada, é uma pobre aleijada! Não tenhas receio. No entanto... deixei-a sozinha, às escuras... e ela já cá devia estar.
Aninhas embespinhou-se:
— Se te parece... vai procurá-la! Quando voltares encontras-me no braços do Vicente!
Ele deu-lhe um apertão na anca.
— Livra-te disso!
Então Aninhas suplicou:
— Fica comigo! Ela não pode saltar a fogueira nem bailar como as outras raparigas, e decerto já foi para a cama.
A musica recomeçara, António concordou:
— É o mais certo. Vamos dançar esta moda?
E os dois, rodopiando, voltaram a embriagar-se nas voltas de uma modinha...

Conta a lenda que só de manhã encontraram o corpo sem vida de Belmira, a pobre aleijadinha. E houve logo quem comentasse:
— Para que foi ela ao Pontão? Todos sabemos que esta moura não é para graças! Outros mais afoitos não vão lá... e ela atreveu-se! Que isto sirva de aviso a toda a gente!
Em casa, Aninhas lembrou à mãe:
— Veja lá... O desejo de ser rico… às vezes pode matar! Belmira pensou, talvez, que o dinheiro lhe daria uma perna nova… ou um noivo bonito, como o António... Mas a moura do Pontão não a deixou voltar!
Porém, sem falar a ninguém e chorando no íntimo do seu ser, António dizia de si para si:
— Foi por mim... eu sei que foi por mim que ela fez o que fez… Maldita moura do Pontão!

Lendas de Portugal de Gentil Marques, Círculo de Leitores, 1997 [1962] .

Notas e comentários

Ladoeiro - Freguesia do concelho e comarca de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco. É uma terra fértil, alegre na Primavera e no Verão. Triste quando as chuvas encharcam os campos sem relva. A sua população, com  mais de dois mil habitantes, é laboriosa e apegada à terra que a viu nascer, embora os “ares do estrangeiro” comecem agora a fazê-la sentir certa curiosidade pela vida fora dali…

Noite de S. João - É a noite de 23 para 24 de Junho, data em que a Igreja celebra o nascimento de S. João Baptista. É uso entre o nosso povo que a mocidade se recreie saltando fogueiras e jogando diversos jogos, nos quais vão procurar respostas para as perguntas dos seus corações em idade de amor.

Piras - Fogueiras em que os antigos reduziam a cinzas os cadáveres, ou nas quais queimavam vivas pessoas condenadas ao suplicio do fogo.

Pontão - Espécie de jangada presa nas extremidades a um grosso cabo, nas margens dos rios, que muitas vezes serve de cais de embarque. No caso da nossa lenda deve tratar-se do pontão do rio Ponsul.

As Passas - Diz a lenda que a dita moura da Quelha do Pontão só à meia-noite da véspera de S. João é que colocava numa manta uma enorme quantidade de passas, que se transformariam em ouro, se alguém tivesse a coragem de as ir buscar sem acordar. Acordando-a, porém, acordaria nela igualmente o génio do mal que a encantara, e o ousado que ali fora buscar o ouro ficaria perdido para sempre…

Voz do Povo - O que os indivíduos da mesma terra ou do mesmo país são unânimes em dizer, surge como uma só voz. E é tal a certeza de que o povo não se engana quando tem um só pensamento, que nascem daí o adágio popular: “Voz do povo é voz de Deus”.


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