22 de Agosto de 1810
Com a
retirada das tropas francesas do Norte de Portugal em 1809, ficou claramente
perceptível que os franceses nunca aceitariam a presença de um numeroso contingente
militar britânico na Península Ibérica e que voltariam, novamente, a invadir
Portugal. É assim que Arthur Wellesley (Duque de Wel-lington), comandante-chefe
do corpo expedicionário britânico, e perante a ameaça de uma nova invasão francesa
ordenou a construção das Linhas de Torres, obra iniciada em Novembro de 1809 e
destinada a impedir o acesso dos invasores franceses a Lisboa. Ao mesmo tempo,
o dispositivo militar luso-britânico era posicionado pelo país, o reorganizado
Exército Português encontrava-se já há algum tempo sob o comando de William
Beresford e com a maior parte das unidades enquadradas por oficiais ingleses.
No dia 24 de
Julho de 181º sob o comande do Marechal Massena, O Filho Querido da Vitória,
entravam de novo em Portugal pela fronteira da Beira Alta, derrotaram as tropas
luso-britâncias na Batalha do Côa e iniciaram o cerco da Praça de Almeida. A
Beira Baixa, que tanto sofrera com a primeira invasão, foi novamente palco ,
durante o início da terceira invasão francesa de vários confrontos com as
tropas francesas, episódios pouco conhecidos, uma vez que sobre a última
invasão só se menciona o cerco e queda da Praça de Almeida, a Batalha do Buçaco
e das Linhas de Torres. É, pois, o objectivo deste pequeno trabalho, dar a
conhecer um combate ocorrido nas proximidades do Ladoeiro, no dia 22 de Agosto
de 1810.
Ainda antes
de as tropas francesas entrarem em Portugal, no dia 22 de Julho de 1810, o
GeneralReynier, comandante do 2° Corpo do exército invasor, estabeleceu o seu
quartel-general na localidade fronteiriça de Zarza Ia Mayor. Perante a ameaça
de nova entrada em Portugal, pela Beira Baixa, e avanço pela linha doTejo,
Wellesley, que se posicionara no Vale
do Mondego (onde se esperava o principal avanço do exército invasor), transferiu
do Alentejo a 2ª Divisão britânica, comandada pelo Tenente-General Hill,
instalando-se a infantaria na zona das Sarzedas e a cavalaria com a missão de
vigilância entre o Rio Pônsul e a fronteira espanhola.
As tropas
francesas do General Reynier, posicionadas junto à fronteira tinham por
objectivo assegurar o controlo desta zona e evitar qualquer reacção que pusesse
em causa o avanço de Massena pelo Vale do Mondego, na direcção de Coimbra e
posterior chegada a Lisboa. Assim, os confrontos que se registaram na Beira
Baixa durante esta invasão limitaram-se a pequenos, mas violentos combates, que
envolveram praticamente só forças de cavalaria, que realizavam missões de reconhecimento.
O primeiro destes confrontos ocorreu no dia 24 de Julho, com o combate de
Salvaterra do Extremo, em que uma pequena força de reconhecimento francesa,
composta por tropas de infantaria e cavalaria, foi derrotada por uma força
portuguesa constituída por 208 homens dos Regimentos de Cavalaria 5 e 11. O
segundo combate ocorreu na aldeia de Alcafozes, em que uma força de vinte e um
homens do Regimento de Cavalaria n° l, derrotaram uma patrulha francesa que se
encontrava na zona. No dia 3 de Agosto de 1810, um novo confronto envolveu uma
força constituída por cento e dois homens do Regimento de Cavalaria n° l, sob o
comando do Coronel Cristóvão da Costa de Athayde Teive que derrotou na Atalaia
(concelho do Fundão), com uma valente carga, uma força francesa composta por
sessenta homens, deixando mortos e feridos mais de trinta soldados, pondo em
fuga o resto, aprisionando depois catorze.
No dia 22 de
Agosto de 1810, um esquadrão inglês do 13° Regimento de Dragões Ligeiros e um
esquadrão português do Regimento de Cavalaria n° 4, sob o comando do Capitão
William White, em missão de patrulha próximo do Ladoeiro, encontraram uma
patrulha francesa a efectuar reconhecimento à zona, composta por sessenta
cavaleiros. De imediato ,as tropas luso-britânicas se preparam para o combate,
mas os franceses retiram, são perseguidos a galope durante cerca de seis
milhas, até que os franceses passam uma linha de água (cujo nome é
desconhecido, pois ajudaria a localizar com exactidão o local do combate), e
mais à frente, colocam-se em formação para o combate. As também essa linha de
água, formam com frente de três e carregam violentamente sobre o inimigo,
conseguindo em pouco tempo derrotá-lo e aprisionar dois tenentes, três
sargentos, seis cabos, um clarim e cinquenta soldados. Diz o Brigadeiro Fane
(1) em comunicação ao Tenente-General Hilí acerca do combate do Ladoeiro
Julgo-me feliz em poder dizer, que isto se fez sem perder um só homem da nossa
parte. Seis do inimigo ficaram feridos. Vários cavalos ficaram feridos com
golpes de sabre e todos os cavalos franceses foram capturados.
Neste combate
destacaram-se pela sua valentia, reconhecida até pelos prisioneiros
franceses, para além do Capitão White, o Major Charles Albert Vigoureux, do 38°
Regimento de Infantaria inglês, que se encontrava na zona para obtenção de
informações que ao avistar os franceses solicitou ao Capitão White um cavalo
para parque realizava a sua missão apeado, tendo sido ele quem aceitou a
rendição do comandante francês. Destacou-se, também, pela sua coragem o
Tenente Turner do 13° Regimento de Dragões Ligeiros. Quanto ao comandante do
esquadrão- português, o Alferes Pedro Raymundo de Oliveira fizera o seu dever extremamente bem, e
mostrara muito valor. Pela distinta conduta neste combate, o Alferes Oliveira
foi promovido, por distinção, ao posto de Tenente, por ordem do Marechal
Beresford.
Ao serem
avistados os franceses o Capitão White tinha solicitado, por estafeta, ajuda ao
seu regimento estacionado nos Escalos de Cima, mas quando esses reforços
comandados pelo Capitão Macalester, chegaram já o combate tinha terminado há
muito tempo e retirando-se nessa mesma tarde, para o bivaque nos Escalos de
Cima.
Quanto
aos prisioneiros franceses, estes foram tratados com grande humanidade e mais
tarde transferidos para Castelo Branco e entregues ao Tenente-General Hill. Mas
a confusão que se seguiu após o combate permitiu que o capitão francês, que
também fora aprisionado, e alguns soldados fugissem, acabando no entanto por
ser mortos. Segundo William Harre [2], os fugitivos acabaram por ser mortos
pela população, concretizando desta forma aquilo que Wellesly tinha escrito
numa carta ao irmão, dois dias antes por trás de cada muro de pedra, os
franceses encontrarão um inimigo.
O
combate do Ladoeiro aparece em muitas fontes portuguesas e inglesas, erradamente
designado como Ladoeira, Ladoira ou Ladoera. Curiosamente, aparece mais vezes
errada a designação em fontes portuguesas do que inglesas, mas isso não impede
que a localização seja feita correctamente, como próximo do Ladoeiro, freguesia
do concelho de Idanha-a-Nova.
Os
principais comandantes deste combate continuaram durante a Guerra Peninsular
a manter uma conduta distinta e, inclusivamente, a sofrer ferimentos em
combate, nomeadamente o Capitão White em Salamanca em 1812, e o Tenente
Oliveira em Viella, em 1 8 1 4. Ambos regimentos luso-britânicos mantiveram,
igualmente em combate um comportamento exemplar, tendo
Ligeiros
participado, entre outros confrontos na Batalha de Waterloo e tendo o Regimento
de Cavalaria n° 4, distinguindo-se em muitos outros combates e batalhas,
nomeadamente no Buçaco e em Viella, conquistando arduamente a sua divisa
Perguntai ao Inimigo Quem Somos, que também ajudou a ser ganha nos campos da
Idanha.
Luís
Manuel da Silva Guerra de Sousa
Notas
(1) O Brigadeiro Fane, era o
comandante da cavalaria da 2ª divisão, à qual pertencia o 13° Regimento de
Dragões Ligeiros e o Regimento de Cavalaria nº 4.
(2) William Warre, Major, Ajudante
de Campo de Beresford, teve conhecimento do combate através dos relatórios,
pois na altura encontrava-se na Lageosa, onde escreveu a carta datada de 29 de
Agosto de 1810, onde este combate é mencionado.
Bibliografia
- Barrett Charles Raymond Booth, History of XIII Hússars, volume l, W.
Bláckwood & Sons, 1911.
- Chaby, Cláudio de, Excerptos
Históricos e Collecção de Documentos Relativos à Guerra Denominada da
Península" e à Anteriores, Imprensa Nacional, Lisboa, 1865.
- Gurwood, John (compilação), The Dispatches of Field Marshall The duke
of Wellington During Hhis Various Campaígns, volume VDI, Londres, 1847.
- Hay, Andrew Leith, A Narrative of Ate Península War, 4* edição, John
Heame, Londres, 1909.
- Simâo, José da Luz Soriano,
História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar, volume*
IV, Imprensa 'Nacional, 1876.
- Wárre, William, Letters fiom Península 1808-1812, Edmond Warre,
Londres, 1909.
Fotos da internet
Obrigado pela partilha.
ResponderEliminar